O que mudou no Benfica com Bruno Lage?
É o treinador sadino que é mesmo muito bom ou é a comparação com o anterior que o faz brilhar?
Passaram mais de dois meses da substituição de treinador na Luz - sai Rui Vitória e entra o interino Bruno Lage até então na equipa B. O início bastante promissor de Bruno Lage mostra que a equipa pode jogar mais e começam a surgir em todo o lado as críticas ao antigo treinador.
É o normal nos comentadores da nossa praça, o futebol está cheio de profetas do dia seguinte que só conseguem ver o que está a frente dos seus olhos quando a mudança sucede. A aposta em jovens da formação leva os adeptos à euforia e a recuperação dos 7 pontos de vantagem com vitória no Dragão pelo caminho coloca Bruno Lage no auge da popularidade na família Benfiquista.
Nesta altura já nem se houve falar do anterior, como se três anos e meio de bajulação a um treinador medíocre se pudessem esquecer em dois meses. Agora que o campeonato parou e que está tudo com os olhos em Ronaldo e na selecção podemos analisar de forma mais tranquila o que mudou de facto no Benfica e quais os factores críticos de sucesso nesta recuperação quase milagrosa dos encarnados.
A primeira grande alteração do novo treinador foi a mudança para um sistema de jogo que já tinha sido bem sucedido com Jorge Jesus e com Rui Vitória (no primeiro ano e em parte do segundo) - 4x4x2 - deixando para trás o 4x3x3 que Rui Vitória impôs a meio da segunda época no Benfica. O adepto comum é rapidamente tentado a fazer uma associação entre a alteração do sistema de jogo e a melhoria no desempenho colectivo, mas se tivermos alguma atenção é bastante visível que o Benfica continua a jogar em 4x3x3 em muitas fases do jogo, com Felix a cair no corredor direito e Pizzi a fazer de terceiro médio. A segunda tentação em que o adepto comum pode cair é pensar que as escolhas diferentes que Lage vai fazendo podem explicar a forma como a equipa melhorou. O hype de João Félix, o reaparecimento de Samaris, a boa forma de Rafa ou a entrada segura de Ferro no onze sao apenas reflexo da tranquilidade que o plantel goza há dois meses. E de onde vem essa tranquilidade? Essa tranquilidade vem da ideia de jogo de Bruno Lage. O treinador Sadino implementou um modelo de jogo que os jogadores foram assimilando desde o primeiro exercício do primeiro treino. Os jogadores estão mais seguros e confiantes porque sabem como é que cada um deve trabalhar para que o colectivo funcione melhor.
O que faz a diferença é ter um treinador que sabe o que quer da equipa, quando e quem deve pressionar em cada momento, quando devem recuar as linhas para defender, que linhas de passe é importante definir em cada posse, etc. Isto e mais uma quantidade infindável de detalhes é o que define um modelo de jogo evoluído. E isso era aquilo que Rui Vitória ou nunca teve ou se teve nunca foi capaz de operacionalizar no treino, que é a única forma de passar essas ideias aos jogadores. Tudo o resto veio porque a equipa sabe o que fazer em cada momento e isso dá confiança aos jogadores para individualmente serem mais fortes e isso faz com que o colectivo melhore. Obviamente que nem tudo tem sido perfeito, bastante longe disso até. Há muito para melhor na apreensão das ideias e muitos jogadores para recuperar a tempo de ajudarem nas três competições que têm para ganhar esta época. O tempo de treino tem sido pouco com quase todas as semanas mais do que um jogo que deixam apenas tempo para recuperar fisicamente a equipa para o jogo seguinte.
Objectivamente as melhoras são palpáveis no ataque e na defesa mas não são assombrosas. O Benfica cria mais e permite menos aos adversários como mostra o gráfico abaixo. Mas vai fazer ainda melhor quando Bruno Lage tiver oportunidade de fazer uma pré-época de qualidade e escolher o seu plantel para atacar todas as competições.