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Portugal - França

O fim do sonho do europeu

Portugal - França

Num jogo em que as duas equipas se respeitaram mais do que tentaram vencer o jogo, a seleção das Quinas foi a grande derrotada. Embora tivéssemos feito um jogo de qualidade, a verdade é que o futebol excessivamente organizado e previsível, em que fintar é um verbo quase proibido, levou-nos a uma eliminação precoce. Do outro lado, esteve uma toda poderosa França – que, como dissemos anteriormente, tem o melhor plantel do mundo (quiçá dois), mas que também não se exibiu ao seu melhor nível.

Anteriormente falámos de uma espécie de “Guardiolização” do futebol mundial que não nos agrada nada. Se o treinador espanhol é o treinador mais bem-sucedido dos últimos anos (e de quem somos grandes admiradores), não deixa de ser verdade que a sua forma de jogar demasiado calculista não se pode aplicar a todos os plantéis. Ainda assim, parece existir uma forte utilização da saída de bola a três (onde os guarda redes assumem uma função de extrema importância), aliada a uma movimentação já muito pouco original dos laterais por dentro, na esperança que os extremos surjam em situação de um contra um nas alas. Este método bem-intencionado tem resultado no City, no entanto, custa-nos muito ver a homogeneização do futebol europeu, em que os processos são semelhantes, e a criatividade é posta de parte, já que manter a posse de bola parece ser o principal objectivo do jogo actual. Mas não é, nem deveria ser. E é aí que equipas como Portugal se ressentem e colocam os seus jogadores num colete de forças desnecessário. Se não sofrer golos é imperativo e é meio caminho para que se vença um jogo, se não os marcarmos também não ganhamos a ninguém. E França também padeceu do mesmo mal, tendo apenas marcado um golo em lance corrido durante todo o Euro.

Este embate, que tinha tudo para ser um grande jogo de futebol, transformou-se numa dança lenta entre duas equipas que pareciam estar muito confortáveis com o discurso obsoleto de que “os penaltys são uma lotaria”. Efectivamente são uma lotaria, mas só joga jogos de azar quem quer, ou quem está viciado. Esperemos que este não seja um vicio que se instale no seio do nosso grupo, já que, passada a era Ronaldo, temos jogadores que podem e devem “chegar-se” à frente e que pertencem a um lote restrito de craques de nível mundial que tem a obrigação de manter Portugal no topo do futebol mundial.

Uma palavra de agradecimento e admiração por Pepe e Cristiano que se despedem da seleção de cabeça erguida, depois de um percurso quase inacreditável, ainda que fique no ar a ideia de que poderíamos ter ido muito mais longe nesta competição.

Já Espanha, cujo melhor jogador é Lamine Yamal, o seu diamante por lapidar de apenas 16 anos, parece ser a mais séria candidata à conquista do Europeu. E será que o facto de jogar com dois extremos criativos que não pedem licença a ninguém para driblar, vir para dentro e chutar, ou driblar, ir à linha e cruzar, não está a ser o grande segredo desta seleção? Os laterais são ambos competentes, mas não são nenhuns prodígios, os centrais nenhum deles de elite, o ponta de lança não marca golos regularmente, no entanto, é no meio campo que os artistas brilham – Rodri, o melhor médio do mundo, talvez o melhor jogador do mundo, acompanhado da “revelação” Fábian Ruiz e Pedri ou Olmo, têm demonstrado que o futebol ainda precisa do perfume do passe arriscado tenso, do improviso, do drible que desmonta toda uma linha de pressão...

Na final estará esta incrível Espanha, que ninguém colocou como uma das favoritas – nem nós, frente a uma pálida Inglaterra, ou talvez uma Holanda, que caso lá chegue será a maior surpresa deste Europeu, mas que não terá (a ver vamos) argumentos para vencer nuestros hermanos.

Oiçam a 19ª edição da Tribo do Futebol:


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