Final do Euro 2024
Parabéns, nuestros hermanos!
Sejamos honestos, ninguém apostaria nesta Espanha no início do Europeu. A nossa opinião inicial foi a de que Espanha surgia num lote de naturais candidatos ao título, mas bem atrás da seleção da Alemanha, de França e Portugal, e ainda de Inglaterra. Na verdade, olhando para estes plantéis, e sobretudo para os onzes iniciais, a equipa espanhola partia em aparente desvantagem.
Na baliza, um guarda redes que não defende as cores de nenhum grande europeu, embora o Bilbao seja um histórico da La Liga, depois, na defesa, a dupla de centrais menos conceituada de que temos memória de ver alinhar por Espanha – Le Normand, um quase desconhecido jogador da Real Sociedad, e Laporte em fim de carreira na Arábia. Os laterais, não sendo nenhuns prodígios, seriam sempre dois laterais de grande gabarito – Carvajal (alguém que venceu 6 Champions no Real Madrid, atenção!) e Grimaldo que foi o melhor lateral na Alemanha, tendo sido campeão pelo Leverkusen. Acontece que Grimaldo mal jogou e aqui começa-se a notar o dedo de De La Fuente – um treinador com um perfil semelhante a grande parte dos seus jogadores.
Não sendo uma estrela nem um nome que à partida chame muito à atenção, a verdade é que conseguiu colocar Espanha a jogar um futebol descomplexado, criativo, sem medo de arriscar e a não ter a posse de bola como o grande objectivo. Para nós, o seu grande trunfo foi ter deixado os seus miúdos arriscar (Lamal e Williams pareciam dois meninos no recreio a fintar tudo e todos sem medo de perder a bola porque atrás de si estavam sempre os “grandes” prontos a recuperá-la). E teve até a audácia de colocá-los do mesmo lado (o direito), durante vários minutos, com o intuito de baralhar a organização defensiva inglesa. Estranho, mas original e arrojado. Mas voltemos ao onze base. Cucurella, uma autêntica máquina, tanto a defender como a atacar, revelou-se muito melhor jogador do que tem sido ao serviço do Chelsea e acabou por fazer a assistência decisiva na final de ontem. No meio campo apresentou-se o melhor jogador do mundo da actualidade – Rodri. Não há nada a acrescentar à qualidade de jogo deste cérebro espanhol. Muito bem acompanhado por Fábian Ruiz, que admitimos não ser uma das nossas apostas iniciais para este Euro, mas que foi um dos melhores médios da competição. Os dois sempre ajudados por Olmo, outro jogador que aparenta ter demasiado talento para uma equipa pequena como o Leipzig. Nos extremos, os dois “miúdos” que atrás referimos. Foram, a nosso ver, a salvação deste Euro, e foram também a prova de que o futebol actual não tem necessidade de ser tão aborrecido.
Repita connosco: “fintar é permitido e deve ser incentivado por todos os treinadores!”, (sobretudo se estivermos no último terço do campo). Para fechar o onze tipo de Espanha, um ponta de lança que em sete jogos/sete vitórias marcou apenas um golo e não fez qualquer assistência. Isto parecem números horríveis, caso não tivéssemos visto o trabalho incansável de Morata que manteve a posse de bola, muitas vezes sozinho contra defesas inteiras, à espera que a sua equipa subisse em velocidade e aplicasse a estucada final.
Do lado de Inglaterra, tivemos um plantel como há muito não se via e um treinador que não conseguiu tirar o melhor das suas estrelas. Bellingham, Foden, Palmer, Kane, Stones, Saka, Rice, todos eles nomes maiores do futebol mundial que, ao contrário de muitos espanhóis, estão bem habituados a estar nas bocas do mundo e estiveram muito aquém das expectativas.
Resta salientar a excelente final a que assistimos e despedirmo-nos para um merecido período de descanso. Voltaremos assim que os grandes campeonatos regressarem e já sabem, oiçam “A Tribo do Futebol” no Spotify ou Apple Podcasts.
Gustavo Andrade