FC Porto 2025/26: A Reconstrução Começa Agora
Nova época, novo treinador e muitas incertezas.

Os Dragões chegam de uma época muito traumática e todos estavam ansiosos para que a nova começasse o mais rápido possível. Mas estará tudo verdadeiramente sarado? Parece que André Villas-Boas está a tentar uma reforma completa da equipa para cumprir os objetivos internos do clube; contudo, fazê-lo no meio de uma situação financeira muito frágil não é fácil.
Francesco Farioli é o novo treinador após duas tentativas falhadas com Vítor Bruno e Martín Anselmi, ambos demitidos em poucos meses após iniciarem o seu trabalho. Isto levanta a questão: foram eles o problema ou será a equipa o verdadeiro problema? Aparentemente, Farioli terá mais margem para fazer mudanças radicais e também escolherá os jogadores de que precisa. Mas poderá isto tornar o FC Porto grande novamente? Mais dúvidas do que certezas para uma equipa a passar por um dos momentos mais sensíveis da sua história.
Esta é também uma época crucial financeiramente para o clube, especialmente no que diz respeito às competições. Em Portugal, a principal é a Liga dos Campeões, competição que o Porto irá falhar pela segunda vez consecutiva — algo altamente invulgar. Isto também realça a necessidade de os Dragões levarem a Liga Europa mais a sério, já que as suas poucas presenças na última década foram marcadas por desempenhos muito fracos e eliminações precoces.
Plantel (ao momento que este artigo está a ser escrito):
Diogo Costa deverá manter-se como dono da baliza portista por mais uma época — embora, como habitual, a dúvida se arraste até ao final do mercado. Com clubes de topo europeus atentos ao internacional português, tudo pode mudar com uma proposta irrecusável. Para já, o capitão dos dragões continua a ser a referência entre os postes e uma peça essencial dentro e fora do relvado.
A principal dúvida reside em quem será o seu substituto direto. Cláudio Ramos parece manter-se como segunda opção. Teve alguns minutos importantes no Mundial de Clubes e estará novamente na linha da frente para assumir a baliza nas competições secundárias, mas continua motivado, à espera da sua oportunidade de mostrar que pode ser mais do que apenas uma alternativa. João Costa, por sua vez, regressa com outra maturidade e com várias experiências no currículo. Estará certamente determinado a lutar por minutos e fazer valer a sua formação no clube. O regresso à “casa-mãe” é um fator emocional importante, mas o jovem guarda-redes já deixou claro que quer mais: competir, crescer e, sempre que possível, jogar.
O setor defensivo do FC Porto foi, sem dúvida, um dos pontos mais frágeis na temporada passada — e, para já, permanece com debilidades que ainda não foram totalmente resolvidas. Apesar da entrada de alguns reforços e ajustes, há muito trabalho a fazer para garantir solidez defensiva numa época que se adivinha exigente.
No centro da defesa, chegou o jovem croata Prpić, que poderá ser o único central canhoto do plantel. A sua margem de progressão é clara, mas o contexto competitivo do Dragão não permite muitos erros — o que exigirá uma aprendizagem rápida e eficaz. A possível chegada de Bednarek, central experiente com rodagem na Premier League, poderá ser fundamental para equilibrar o setor e ajudar a estabilizar uma linha que, no passado recente, foi frequentemente apanhada em contrapé. Nehuén Pérez continua a gerar desconfiança entre os adeptos. O argentino ainda não conseguiu afirmar-se como patrão da defesa e os erros acumulados em momentos cruciais só têm reforçado a impaciência no tribunal do Dragão. Já Zé Pedro, sempre disponível e combativo, parece encaminhar-se para o papel de quarto central, dadas as suas limitações técnicas e de posicionamento, que deixam dúvidas sobre a sua capacidade para responder às exigências do FC Porto.
Nas alas, também se vive um cenário de renovação. À direita, Martim Fernandes deverá começar como titular, mas a chegada de Alberto Costa promete uma disputa acesa pela posição. Ambos são jovens com potencial e esta competição interna poderá finalmente devolver estabilidade a uma posição que tem sido problemática nos últimos anos. Do lado esquerdo, Francisco Moura parte em vantagem — apesar de estar temporariamente lesionado — depois de uma época de adaptação à realidade portista, onde já se notou evolução. Zaidu continua a ser uma incógnita: a sua permanência está em aberto, mas a sua saída também não será simples, tanto pela escassez de interessados como pelo impacto que poderá ter a sua eventual ausência durante a CAN, que será disputada a meio da época.
A reformulação do meio-campo é uma das grandes prioridades do FC Porto para esta nova temporada. Na base do meio-campo, Alan Varela continuará a ser o pilar defensivo. Apesar de uma temporada anterior abaixo das expectativas criadas após a sua excelente chegada ao clube, o argentino — que já envergou a braçadeira — tem tudo para recuperar o protagonismo e reafirmar-se como patrão da zona mais recuada. Ao seu lado, Tomás Pérez surge como uma promessa a seguir de perto. O jovem compatriota de Varela terá tempo para crescer e aprender, estando em plano secundário para já. Ainda assim, não se descarta a contratação de mais um médio-defensivo para oferecer mais opções. Por outro lado, a saída de Marko Grujić é praticamente certa. O sérvio, que nunca conseguiu afirmar-se plenamente com a camisola azul e branca, regressa de uma lesão prolongada e vê agora a concorrência reforçada — o que torna o seu espaço no plantel muito reduzido.
Na construção e ligação, Gabri Veiga e Froholdt são os nomes sonantes do reforço portista. O espanhol e o norueguês trazem qualidades técnicas e táticas diferenciadas, essenciais para um meio-campo que precisa de maior dinamismo e capacidade de chegada à frente. Ambos deverão ser peças-chave na nova ideologia do treinador, que pede médios com inteligência posicional e presença ofensiva. A dar suporte a este novo núcleo, estará Stephen Eustáquio. O internacional canadiano será essencial pela sua experiência, leitura de jogo e capacidade de liderança, sendo uma arma tática importante para jogos de maior exigência. Vasco Sousa, por sua vez, tenta relançar a sua carreira após um bom início de época no ano passado, que acabou abruptamente devido a uma grave lesão. Esta temporada será decisiva para perceber até onde poderá crescer.
Finalmente, dois nomes que vêm da equipa B e merecem atenção: André Oliveira e Domingos Andrade. Apesar de uma época difícil da equipa secundária, ambos conseguiram destacar-se e estão agora integrados na pré-época dos A. A ambição de agarrar uma oportunidade é evidente — e a época longa poderá abrir espaço para que se mostrem.
Se há algo que faltou ao FC Porto na época passada, foi precisamente a faísca criativa no último terço do terreno — aquele toque de magia que decide jogos complicados. Para 2025/26, os dragões sabem que precisam de mais desequilíbrios, mais velocidade e, sobretudo, mais inspiração ofensiva. E há talento para isso. Rodrigo Mora é, por enquanto, a grande esperança da casa. Depois de uma evolução notável, o jovem português surge como um dos raros talentos criados em solo nacional com potencial para brilhar ao mais alto nível. Apesar da forte concorrência, espera-se que Mora continue a afirmar-se e que esta possa ser a sua verdadeira temporada de explosão. Clube e jogador partilham a ambição de fazer deste ano um ponto de viragem.
Já Pepê entra numa fase decisiva da sua carreira no Dragão. Após duas temporadas algo abaixo das expectativas — longe da intensidade, velocidade e criatividade que o tornaram referência —, o brasileiro terá de voltar a mostrar o seu melhor futebol. A exigência é alta, e os adeptos pedem o regresso do Pepê desequilibrador e imprevisível. O setor também conta com duas peças a observar com atenção. Borja chega como reforço com impacto imediato. O espanhol aparenta estar perfeitamente integrado e poderá assumir rapidamente um papel relevante na rotação do plantel. Já William Gomes, que chegou no mercado de inverno, tem mostrado sinais de progresso. Com uma pré-temporada positiva, especialmente frente ao Twente, o jovem brasileiro começa a assimilar os princípios do clube e pode ser uma agradável surpresa ao longo da época.
Ainda assim, não está fora de hipótese a chegada de mais um extremo até ao fecho do mercado. Isto deve-se, em grande parte, à iminente saída de Ivan Jaime, que continua sem convencer nem demonstrar total compromisso com o projeto portista. Com a equipa B a oferecer algumas soluções interessantes, veremos se existirá aposta no que já existe ou se se forçará a entrada de mais um elemento para garantir qualidade e profundidade.
O eixo ofensivo do FC Porto apresenta um cenário curioso: uma titularidade praticamente indiscutível e, ao mesmo tempo, uma escassez de concorrência direta que possa elevar o nível coletivo. Samu parte para a nova época com total vantagem como ponta de lança titular — mérito do que já demonstrou, mas também reflexo da falta de alternativas reais que lhe retirem o lugar. O avançado espanhol é tecnicamente competente, inteligente nos movimentos e capaz de ser o homem-golo da equipa. No entanto, a falta de pressão interna pode acabar por ser prejudicial ao seu crescimento. Depois de um início de temporada muito promissor no último ano, perdeu algum fulgor e nunca teve um verdadeiro rival a obrigá-lo a manter-se no topo.
Deniz Gül é visto como um projeto de futuro. O turco está em fase de desenvolvimento e precisa de tempo, de minutos e de contexto para errar e aprender. Por agora, não pode ainda ser considerado uma alternativa de peso. Quanto a Namaso, tudo indica que o seu ciclo no Dragão se aproxima do fim. Apesar das oportunidades concedidas, o camaronês não conseguiu afirmar-se como uma solução fiável — nem como ponta de lança de raiz, nem como elemento versátil para o ataque. Deste modo, a chegada de um novo avançado poderá tornar-se inevitável. Embora ainda não haja nomes em cima da mesa, o clube estará atento ao mercado.
Tudo dependerá de possíveis saídas até ao fecho da janela de transferências, mas é claro que aumentar a competitividade nesta posição seria um passo essencial rumo a uma frente de ataque mais robusta.
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Texto por André Reis