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Vídeo-Árbitro no futebol

A Culpa morreu solteira. Análise sobre as vantagens e desvantagens do vídeo-árbitro no futebol em Portugal

Vídeo-Árbitro no futebol


Esta semana reuniram-se os clubes com o conselho de arbitragem e se por um lado se percebe que os clubes sairam da reunião mais ponderados, com cuidado na escolha das palavras, por outro se percebeu que pouco ou nada vai mudar no imediato.

Os que mais se queixam, apontam agora as suas setas para os observadores, e apelam à necessidade urgente de avançar com o vídeo-árbitro. 

Sendo eu um fã da tecnologia e acreditar que esta pode ajudar em diversas áreas e especialmente na defesa da verdade desportiva, tenho algumas reticências em relação ao vídeo-árbitro…

Antes de mais, é importante perceber que todos os clubes, quando perdem, tendem a atirar culpas para tudo menos si próprios. Forma de evitar pressionar mais os jogadores/treinadores/dirigentes, mas uma estratégia que às vezes pode resultar ao contrário. Afinal se, por exemplo, eu tenho uma firma de camionistas, e eles têm 10 acidentes por mês, e cada vez que eles têm acidentes, eu responsabilizo os inspectores do centro de inspecções (com ou sem razão), estou a des-responsabilizar os meus próprios trabalhadores, que vão pensar: “Eu tenho feito tudo bem, o problema não sou eu, por isso, vou continuar a conduzir da mesma forma” e isso é perigoso, porque desta forma, meus amigos, pouco ou nada vai mudar porque é criada uma sensação de que “se eu falhar, a culpa vai continuar a não ser minha”. Este é um exemplo, mas aplica-se a qualquer empresa/profissão desta vida. Sou a favor da crítica, mas da mesma forma que há cuidado em criticar os “nossos” (nas raras vezes que estes são criticados) também deve haver cuidado e ponderação na altura de criticar os “deles” (que afinal também são nossos).

E com isto chegamos ao vídeo-árbitro.

Para falar de um caso mais polémico, retorno ao derby Benfica-Sporting.

Após o jogo, não houve unanimidade na análise desses lances. Os adeptos, já se sabe, olham com os seus óculos coloridos (algo que considero perfeitamente normal) mas mesmo entre árbitros e ex-árbitros, não houve consenso. Uns acham que são 2 penálties, outros acham que só o do Nelson Semedo é penálti, e outros acham que nem um nem outro são pénalti. (Os potenciais vídeo-árbitros que tiveram horas para analisar os lances). Aliás, ainda esta semana, na reunião entre os clubes e o CA foram mostradas estas imagens e obviamente que os lesados, após a explicação, ainda assim levantaram as suas vozes de protesto.

Agora vamos fazer um exercício e imaginar que estes 2 lances tinham sido ajuizados por vídeo-árbitro e o resultado tinha sido igual. De acordo com as instruções do CA, não seriam marcados penalties. Se no momento actual e sem vídeo árbitro, já se acusam, por vezes, árbitros de “ele viu mas não quis marcar”, o que diriam com vídeo árbitro? Não imagino nada mais brando que: “Está tudo feito”, “é uma vergonha”, “nem com câmaras”, etc, etc…

Por um lado não seria mau, tirava-se a responsabilidade de apenas uma pessoa (árbitro) e apontava-se na direcção de uma equipa. Mas em termos práticos, perdia-se tempo e ia haver sempre quem não concordasse. Ou seja, falaria-se menos do árbitro e mais em corrupção instalada.

Claro que em lances de fora de jogo, algum lance mais evidente ajudaria, e é por isso que não sou contra o vídeo-árbitro. Mas tem que ser realmente lances que não deixem margem para d/vidas e onde o factor “interpretação” seja inexistente.

Acho que vai resolver todos os problemas da arbitragem? Longe disso.

Pode ajudar a tornar o futebol mais transparente? Sem dúvida.

Vai aumentar a constestação quando a decisão não for para o “nosso” lado e ser de difícil análise? De certeza.

E não vai haver a desculpa de: “Tem que decidir em poucos segundos ou tem jogadores na frente”, ou “Estava mal posicionado”.

Por isso, se a margem de erro, já é pouca, com o vídeo-árbitro vai passar a ser nenhuma… E no fundo, continuam a ser homens a ajuizar. E o homem, não é perfeito, logo erra.

Todos erram no futebol. Os dirigentes, os treinadores, os jogadores, os preparadores físicos, os médicos, os árbitros, os observadores. No fundo, ser capaz de fazer auto-critica, de fazer mea culpa quando se perde e mesmo quando se ganha, faz mais falta que o video árbitro. Afinal, é por todos estes que por vezes as equipas investem tanto e não cumprem os objectivos e não só por causa da arbitragem como às vezes ouvimos.

Como diz o ditado: “A culpa morreu solteira”.


Texto por Filipe Correia


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