"Flops" 2016-2017
As contratações falhadas dos três "grandes" nesta temporada
É impossível acertar todas as contratações. É assim em todas as equipas, de todos os campeonatos e em todas as épocas. E isto acontece por diversas razões: adaptação do jogador à equipa e ao campeonato, escolhas do treinador, diversidade de opções no plantel para a mesma posição, lesões em alturas críticas como a pré-época, etc.
Depois há as contratações que assim que aparecem no jornal, toda a gente percebe que não fazem sentido.
Toda a gente menos a equipa que fez a contratação. Aconteceu com Tarabt, com Marega, com Suk, com Ewerton e com muitos outros. E vai continuar a acontecer. Umas vezes porque os treinadores acham que conseguem o que ninguém antes conseguiu - motivar o jogador, integrá-lo, recuperá-lo fisicamente - outras porque os empresários "obrigam" os clubes a comprar o jogador "A" para terem direito a negociar o jogador "B" que é de facto o jogador que pretendem contratar. É assim a indústria do futebol...
A época que agora termina não foi diferente e nos três grandes há vários exemplos de contratações falhadas. Começamos pelo Benfica:
- Benitez, Hermes e Cellis:
Apesar de serem três situações distintas - Benitez foi emprestado na pré-época ao Braga (e não foi opção), Hermes chegou no mercado de Inverno e não tem um minuto e Cellis ficou no plantel desde o início, teve algumas oportunidades (demasiadas!) mas nunca entusiasmou - junto-as por considerar que têm um ponto em comum. São jogadores banais, que não foram contratados para primeira opção, mas que acabam por ter um peso no orçamento considerável (estes três custaram 10 milhões sem contar com comissões e ordenados). Este é o tipo de jogador que menos sentido faz contratar em equipas como os grandes. Estas são as vagas do plantel que deviam se preenchidas por jovens da formação (treinam com a equipa principal e jogam em ambas, dependendo das necessidades). Tendo no plantel Sálvio, Zivkovic, Cervi, Carrillo e Rafa, qual é o sentido de contratar um jogador como Benites? Hermes foi uma situação especial pois parece-me que foi contratado para colmatar a ausência de Grimaldo por lesão prolongada, mas ainda assim, Yuri Ribeiro não dava conta do recado?
- Carrillo:
É obrigatório falar de Carrillo. Depois de toda a novela mediática que rodeou este negócio é inevitável considerar Carrilo como um "flop". Chegou com estatuto de titular (era assim no Sporting das últimas épocas) mas nunca conseguiu impor o seu jogo e ganhar um lugar. Não se pode queixar de falta de oportunidades pois teve várias, mas nunca provou que estava à frente da concorrência, que já se sabia forte. Tem tudo para ser vendido já neste defeso ou pode vir a tornar-se uma dor de cabeça para o Benfica.
- Rafa:
Apesar de o considerar bom jogador e com grande potencial para agarrar um lugar no onze a primeira época foi pobre para o jogador que veio do Braga. Os 16 milhões de euros que custou a sua transferência carregaram o jogador com uma pressão que ainda não mostrou ser capaz de aguentar. Teve as suas oportunidades e, sem ser sempre feliz, foi mostrando o que pode dar à equipa. É rapidíssimo com e sem bola, é criativo e procura combinar, mas ainda quer ser o centro das atenções em demasiadas ocasiões. Tem espaço para crescer, mas para já, e tendo em conta o investimento, considero que ficou aquém das espectativas.
Em relação ao FC Porto:
- Boly:
Seis milhões de euros por um central que jogou 540 minutos no campeonato parece-me sempre um mau negócio. Veio com a espectativa de lutar por um lugar com Marcano e Felipe mas nunca foi capaz sequer de gerar alguma dúvida. Pode dizer-se que não teve sorte por jogar na posição dos jogadores em melhor forma no FC Porto esta época (sobretudo Felipe!), mas foi curto desde o primeiro minuto.
- João Carlos Teixeira:
Veio a "custo zero" (a expressão mais falaciosa do futebol mundial) e isso retira sempre muita pressão às transferências. Pelo menos aos olhos dos adeptos. É como se os adeptos desculpassem as más aquisições quando estas não têm associado um valor na transacção. No entanto João Teixeira chegou na espectativa de se afirma finalmente num clube de topo. Durante a passagem pelo Liverpool (e por vários empréstimos) o jogador formado no Sporting foi sempre tido como uma grande promessa, mas passou mais um ano e a promessa continua por cumprir - 166 minutos em todas as competições foi o que conseguiu o médio de 24 anos. Começa a ser tarde para ser promessa...
- Depoitre:
Na minha opinião, o rei dos "flops" em 2016-2017. Não por ter sido a transferência mais cara - 6 milhões é muito dinheiro, mas nada que obrigue à titularidade - mas por ter sido, esta época, o jogador que mais claramente (e rapidamente) demonstrou que não tem qualidade para jogar num grande em Portugal. É alto e tem jogo de cabeça, mas fica por aí. Com bola é um desastre, tosco, básico e sem qualidade. Sem bola é pouco móvel e só consegue procurar o espaço para o cruzamento - o verdadeiro "pinheiro". Muito pouco para quem chegou e obrigou Aboubakar a procurar outras paragens...
No Sporting foi assim:
- Douglas, Petrovic e André:
Na linha do que fez o Benfica, são três contratações para as segundas linhas, de baixo valor (3 milhões no total) mas que para além de não trazerem absolutamente nada à equipa, tiram a possibilidade de jovens como Francisco Geraldes, Podence ou mesmo Iuri Medeiros poderem ganhar minutos na equipa principal e crescerem enquanto jogadores para, mais cedo do que tarde, assumirem um papel relevante na primeira equipa. Douglas participou em sete jogos (três na liga), Petrovic participou em três jogos (nenhum na liga e foi emprestado ao Rio Ave em Janeiro) e André com participação em catorze jogos (seis da liga) e pouco mais de 500 minutos. Muito pouco, mesmo para segundas opções.
- Melli, Campbel e Markovic:
O grupo de emprestados que chegaram a Alvalade com provas dadas e com potencial suficiente para assumirem a titularidade ou serem segundas escolhas com grande utilização. Os três podem ser incluídos num lote de grandes "flops" desta temporada. Se em Setembro, quando chegaram Campbel e Markovic, alguém admitisse que acreditava que nenhum deles iria ser titular de caras, era certamente um visionário ou muito distraído. É para mim inexplicável como é que nenhum dos dois tem mais minutos do que Alan Ruiz (jogador bem menos talentoso que estes dois), mas a verdade é que Markovic foi despachado em Janeiro para Inglaterra e Campbel simplesmente desapareceu (44 minutos nos últimos treze jogos!). Meli jogou dezasseis minutos em dois jogos! Incrível...
- Castaignos:
Luc Castaignos é daquelas eternas promessas do futebol. Com 19 anos jogou no Inter e no ano seguinte regressou à Holanda por seis milhões de euros com apenas 20 anos. Ainda só tem 24 anos mas já jogou em quatro ligas europeias, no entanto não consegue jogar dois anos na mesma equipa. E desta vez não vai ser diferente, parece-me... Jogou 52 minutos no campeonato deste ano, o que diz muito da qualidade da época do Holandês. Um "flop" que não vai deixar saudades.
No próximo defeso vai ser exactamente a mesma coisa. Mudam os nomes e os empresários, mas os erros vão suceder-se, Escolher bem é muito difícil, exige grande conhecimento do jogo e do mercado, estudo, análise (estatística e outras) e muito trabalho. No entanto uma parte considerável destes "erros" fazem parte do jogo. Os empresários (e os parasitas que giram à sua volta, como alguns presidentes ou directores) precisam que os negócios se sucedam e que este tipo de jogadores continuem a ter mercado...
Texto por Telmo Frias